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  • Anna Hirsch Burg

A mãe precisa ser mais madura do que a filha e aprender a atenuar o conflito. Veja outras dicas

Entrevista concedida por Anna Hirsch Burg à Simone Cunha para o portal IG São Paulo

Na novela Em Família, da Globo, as cenas entre Shirley (Vivianne Pasmanter) e a filha Bárbara (Polliana Aleixo) costumam ser tensas e mostram que, nem sempre, o relacionamento entre mãe e filha é sinônimo de amor e cumplicidade.

“Ainda jovem, a filha pode passar a ser uma ameaça à posição da mulher adulta, no momento em que começa a apresentar interesse pelos atributos de feminilidade e quando se torna objeto de desejo”, diz a psicóloga Renata Yamasaki, com especialização em orientação familiar.


De acordo com a psicanalista Anna Hirsch Burg, a maneira de cada filha vivenciar sua relação com a mãe, em geral, é deslocada para todos os relacionamentos dela. Por isso, Anna defende que é fundamental respeitar as singularidades de cada uma.


A antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que as filhas tendem a imitar as mães ou a rejeitá-las como modelo. Algumas mães, por sua vez, podem lidar mal com a ideia de envelhecer e começam então a competir com as filhas.

“Essa mãe pode ver na filha algo que ela não teve ou não terá mais, como juventude, futuro, realizações. E a filha enxerga na mãe algo que ela pode invejar ou rejeitar, ou as duas coisas juntas”, explica.

No exemplo da novela, Shirley se incomoda com o jeito da filha e diz que a jovem tem inveja dela. Em contrapartida, Bárbara considera que a mãe interfere de forma negativa na vida dela, fazendo-a acreditar que a ama. Para a psicóloga Renata, a personagem Shirley demonstra frieza e competitividade em relação à filha.

“Este comportamento mostra a ausência do afeto e do carinho que ela também não teve”, diz.

A psicanalista Anna Burg reforça que cada mãe é produto da relação com sua própria mãe. E toda filha tem como ideal ser aquilo que ela acredita que a mãe deseja dela, mesmo que no discurso ela diga o contrário. A personagem Bárbara parece confirmar isso pois, embora condene o jeito excêntrico da mãe, no fundo demonstra admiração pela feminilidade dela.

Em situações como essa, sugere Renata, o diálogo poderia ajudar a atenuar as diferenças.

“A filha poderia fazer elogios e mostrar que não é uma ameaça. No entanto, não é comum, nessa idade a filha ter maturidade suficiente para direcionar e sustentar uma conversa como essa. Por isso, a ajuda de um especialista pode ser essencial em casos semelhantes.”

Na teoria tudo é mais fácil. Porém, na prática, relações turbulentas entre mãe e filha exigem uma manutenção mais cuidadosa. Não existe receita pronta para situações como essas, mas a adoção de alguns comportamentos pode facilitar e melhorar o convívio entre mãe e filha. Veja a seguir sugestões das especialistas entrevistadas para preservar a harmonia em família.

Se você é mãe e tem uma relação conflituosa com a sua filha, tenha em mente que:

1. Respeito, admiração e confiança são a base para qualquer relação de amizade. E isso fica favorecido quando a mãe sabe ser mãe, com maturidade e generosidade.

“É importante lembrar que as diferenças e até a rejeição de um determinado modelo são importantes para a construção da própria identidade”, diz Mirian Goldenberg. Portanto, mãe e filha não precisam, necessariamente, pensar e agir de forma igual.

2. A mãe funciona como um modelo identificatório de feminilidade para a filha. E isso não significa que a menina poderá apenas imitá-la no jeito de se vestir, mas copiar também seus defeitos. Portanto, Anna Hirsch Burg reforça que mães e filhas precisam tentar aceitar suas próprias diferenças e limites, sem exigir perfeição de uma para outra.

3. É fundamental que a mãe promova diálogos francos, dando atenção, tirando dúvidas e passando segurança para filha. No entanto, é bom impor limites para essa confidencialidade. O diálogo é importante, mas o ideal é que a filha cultive suas próprias amizades.

“Ser a ‘melhor’ amiga da filha nem sempre é positivo, pois pode haver confusão entre amizade e permissividade”, diz Renata Yamasaki.

4. Por motivos óbvios, a maturidade é esperada das mães, muito mais do que das filhas. É importante que a mãe saiba lidar com a competividade e não alimente inveja da jovialidade da filha.

“As mães que não conseguem aceitar o processo de envelhecimento acabam sofrendo muito mais”, comenta a antropóloga Mirian.

5. Os homens, em geral, não costumam entender os conflitos que ocorrem entre mãe e filha. Eles têm muita dificuldade em se posicionar em favor de uma ou outra, pois ficam petrificados e perplexos com o conflito.

“Por isso, se o relacionamento está muito conflituoso, buscar ajuda de um especialista pode ser essencial para manter ou resgatar a harmonia”, orienta Anna.

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