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Anna Hirsch Burg

Terapia de Casal Funciona?

Escrito por Anna Hirsch Burg - Psicanalista

Com que fio é tecido o amor? Por que se esgarça? Para onde vai o amor quando acaba? Acaba? Essas são questões que usualmente permeiam as entrelinhas da primeira sessão de quem procura uma terapia de casal.

Do ponto de vista psíquico, a felicidade amorosa ainda é o bem mais almejado. Apesar da imensa importância que se atribui em nossa cultura ao âmbito profissional e financeiro, o ’’maior bem de consumo’’ ainda é amar e ser amado e não se encontra à venda no shopping nem online. O desejo amoroso exige uma reciprocidade eternamente durável.

Independentemente do gênero, homens e mulheres se sentem igualmente desvalidos e atormentados frente à ameaça de perder seu parceiro amoroso. Uma possível separação pode trazer à tona sensações de angústia e vazio sem igual. A perda do ser amado representa não apenas uma ruptura externa, mas algo interno à pessoa se perde e se esvai.

Na tentativa de evitar uma cisão, casais buscam inúmeras alternativas para reavivar e reascender seu relacionamento.

Após várias tentativas, tais como jantares, viagens, um filho, há casais que percebem que uma crise conjugal não se resolverá magicamente a partir de elementos externos. Ou seja, querem entender a dinâmica interna da pareceria que não está funcionando: admitem que algo mais profundo permeia a incapacidade de se relacionarem como gostariam e partem em busca da ajuda profissional.

Alguns buscam ajuda individual, outros buscam a terapia de casal, modalidade cada vez mais conhecida do grande público, como uma alternativa para salvar o casamento de um possível naufrágio.

Tenho sido procurada por casais das mais variadas faixas etárias, estado civil e tempo de relacionamento. O amor é um assunto que quando ferido anseia por solução urgente e sólida.

A pergunta mais frequente que escuto é: a terapia de casal funciona? A questão aparentemente simples pode render teses, mas, resumidamente, posso dizer que o compromisso da terapia é com a saúde emocional do casal e não com a manutenção ou ruptura do relacionamento.

Quando um casal busca uma terapia, via de regra, se encontra numa crise bastante séria e o assunto separação já foi mencionado. No entanto, se chegam ao consultório, é porque desejam ficar juntos, senão estariam procurando um advogado. Uma escuta sensível por parte do terapeuta convoca à responsabilidade psíquica de cada um pela problemática que os trouxe até o presente momento da história do casal.

A história do casal se organiza desde o momento em que se conheceram. Do ponto de vista da psicanálise, os parceiros se escolhem a partir de critérios misteriosos, pouco conscientes: isto é, se conhecem, se encantam, têm a sensação de que se complementam e a vida assume uma felicidade sem precedentes, suficientemente forte para que cada despedida não faça mais sentido e passam a morar juntos ou a formalizar um casamento.

Casam-se ao som da mais cara festa que o bolso permite e cortam felizes o bolo, - uma verdadeira obra de arte de vários andares - com o desejo de que o relacionamento não se transforme numa torre de piza.

E como fica essa paixão toda, na ocasião do nascimento de um bebê, um terceiro que rouba as noites que eram só dos dois? Ou quando um dos dois anuncia que ficou desempregado, ou a mãe de um deles adoece e exige cuidados, tempo e atenção? Isso sem falar nas TPMs mensais que vêm acompanhadas de choros e discursos do tipo “você não me ama mais” etc. Não obstante a isso, a tecnologia, por sua vez, trouxe consigo problemas de outra ordem, que antes não apareciam na pauta das discussões: Whatsapp, Facebook, apps de relacionamentos aparecem como o grande e talvez o principal mote dos desentendimentos. Ou seja, tudo passa a ser motivo de briga e a possibilidade de comunicação fica praticamente impossível.

Quando uma ou mais dessas situações se instala na vida do casal, na maioria das vezes sentem que precisam de ajuda profissional que lhes sirva de porto seguro. Alguém capacitado a ouvi-los com neutralidade e conhecimento profundo sobre as vicissitudes do amor.

Geralmente, a terapia de casal é breve para os padrões da psicanálise, dura de 3 a 4 meses, pois esse é o tempo que, via de regra, o casal demora para entender com profundidade quais os diferentes conflitos que estão servindo de obstáculo para se relacionarem em bases mais reais, menos ilusórias; entendendo que numa relação amorosa, os dois componentes do casal são vítimas da trama inconsciente que os conduz ao desencontro. Quando percebem que se complementam numa dinâmica disfuncional, a partir da terapia, surge a possibilidade de substituir brigas repetitivas que vão do nada para lugar nenhum por saídas mais salutares.

Tendo em vista todo o escrito acima, sim, a meu ver, a terapia de casal funciona e muito, produz crescimento individual, além de ampliar a visão sobre o outro, este outro tão significativo com quem se resolveu compartilhar profundamente uma vida amorosa.

Como dizia Camões, “amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente. “

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